A promessa do sol de inverno
9 dezembro 2025
A rotina semanal só se torna suportável porque a Vision me leva e traz, fiel, mesmo quando o céu decide desabar sem aviso. Há dias em que a chuva parece ter sido contratada a tempo inteiro, como se alguém tivesse decretado que a água faz parte obrigatória do trajeto. Ainda assim, seguimos. O motor acorda, eu desperto com ele, e juntos abrimos caminho por ruas brilhantes de água. Mas, quando por milagre o sol aparece, mal o tocamos: um raio breve na hora de almoço, outro a cortar o regresso ao trabalho. É tudo. Vivemos encolhidos dentro do outono, e o inverno aproxima-se com aquele jeito de quem não pede licença. O direito à luz vai-nos sendo retirado aos poucos — à saída já é noite profunda, e a viagem de volta faz-se apenas com a coragem dos faróis da Vision e a claridade fria da iluminação pública, que pinta tudo num amarelo que não aquece. Ao fim de semana, devíamos respirar. Mas o céu, ciumento, fecha-se de novo. A chuva regressa como se tivesse saudades nossas. E o mais curioso é ...