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Preciso de… pão (ou não)

23 julho 2025
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Domingo à tarde. A casa está calma, quase a flutuar naquele limbo entre o almoço e o jantar, onde o tempo parece que se espreguiça no sofá. A minha mulher está no modo zen, de pantufas nos pés e telemóvel na mão, a navegar entre reels e receitas de salmão no forno com crosta de amêndoa. Eu, por outro lado, estou num conflito interno digno de uma tragédia grega. Quero — não, preciso — sair de mota. Nem que seja só até à rotunda. Nem que seja só para ouvir o motor a suspirar sob o meu comando. Mas como justificar isso? “Preciso de gasolina.” Não pega. Enchi o depósito há dois dias. “A farmácia!” Também não. Estamos abastecidos até à próxima pandemia. “Vou ao supermercado buscar pão.” Possível… mas temos pão. “Vou só dar uma volta para arejar a cabeça.” Altamente suspeito. A cabeça está perfeitamente arejada (ou talvez demasiado…). Penso. Reflito. Finjo estar a ler as notícias no computador, mas na verdade, estou a construir o argumento perfeito. Algo entre o dramático e o convincente, c...

Mil e uma palavras

21 julho 2025
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A manhã estava limpa. Daquelas que não pedem nada, só prometem. Sabia o destino, não sabia o significado. O motivo era bom: ir buscar o novo livro de Júlio Machado Vaz , Outonecer . Um nome estranho para julho, mas perfeito para mim. Primeira paragem: livraria no centro da cidade. Entro decidido, quase solene, e pergunto pelo livro. As funcionárias olharam-me com pena — aquela pena educada, profissional, de quem já disse o mesmo trinta vezes hoje. “Esgotado.” Mas, vá lá, não me mandaram embora de mãos vazias: uma delas consultou o stock na rede. “Temos oito exemplares numa outra livraria.” Sorriso discreto. A outra livraria ficava fora da cidade. Não sei se o livro estava difícil de encontrar ou se era o universo a esticar o momento. A esticar a viagem até ao milhar. Foi já nesse segundo percurso, entre avenidas e atalhos, que reparei: faltavam só quatro quilómetros para os mil. A marca redonda. O primeiro milhar. E, claro, a mente começou logo a dramatizar — como se fosse a primeira ...

Entre semáforos e silêncios

20 julho 2025
Ontem, rasguei a cidade de mota. Não com pressa, nem com destino urgente. Apenas eu, a cidade e esse silêncio que às vezes nasce entre o barulho. Não sei descrever bem o que senti. Há qualquer coisa naquele momento em que o motor desperta, suave, e se passa do repouso à fluidez — como se o corpo ganhasse um compasso novo, sem sobressalto. Nos semáforos, a pausa deixa ver tudo: os passos apressados de quem atravessa, as fachadas antigas que respiram histórias, o reflexo da luz nos paralelepípedos. E no meio disso, eu — parado, mas por dentro a mover-me. Talvez venha do facto de que não estou apenas a viver a cidade, estou a sentir-me parte dela, quase como se fosse um fio condutor entre o urbano e o humano. Há uma tranquilidade estranha nisto. Uma calma que não vem do silêncio, mas no estar atento. Talvez a scooter não me transporte apenas pelos caminhos da cidade, mas por dentro dela. Talvez me transporte, sem eu perceber, também por dentro de mim. É algo que muitos motociclistas sent...

Lembrete da primeira revisão

12 julho 2025
Surgiu com pouco mais de 700 quilómetros percorridos. Um e-mail e um SMS da Honda a lembrar a necessidade de fazer a revisão – a primeira – com os dados do representante de proximidade da marca. Quase a atingir os mil quilómetros, a primeira revisão já tem data marcada e será na Motoveiga, o local onde comprei a minha Vision 110. Aguardo o momento com expectativa, tendo a noção de que se trata de uma intervenção mais rápida e simples, basicamente com uma mudança de óleo para um intervalo de mais 6 mil quilómetros. O óleo sairá mais sujo porque ao longo dos quilómetros iniciais o resultado do atrito dos componentes do motor circularam e ficaram depositados neste primeiro óleo. Daí a necessidade da primeira mudança de óleo ser num intervalo mais curto.

Análise à Honda Vision 110

23 junho 2025
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A Honda Vision 110 apresenta umas linhas arrojadas e desportivas. Um visual que inicialmente causa estranheza mas que depois de uma certa habituação torna-se numa combinação mais bonita. É um ponto extremamente pessoal, havendo a necessidade de dar tempo para se aprender a gostar. Com 777 quilómetros feitos nesta mota, maioritariamente em regime urbano e semiurbano, é chegada a altura para partilhar algumas das minhas experiências. Esta mota é uma Euro 5+. Tem características muito interessantes e práticas que vou partilhar convosco. Possui um botão de start/stop cujo objetivo é poupar combustível nas frequentes paragens em semáforos. Como não considero que o ganho em eficiência seja significativo e, pelo contrário, até acho que causa um maior desgaste e stress com frequentes interrupções e arranques, opto por tê-lo sempre desligado. Mas fica ao critério de cada um. Pelos meus cálculos e registos já consegui verificar um aumento de 150% em eficiência de combustível ao mudar do velho ...

Até Vila Verde, com uma lombalgia

8 junho 2025
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A lombalgia, especialmente dolorosa ao acordar, pode revelar-se um sintoma bastante incapacitante. Tão incapacitante que nos últimos dias o simples facto de me vestir ou calçar-me torna-se uma tarefa hercúlea. Mas, o quão demovente isso pode ser para evitar andar de mota? E se mesmo assim me atrevo a fazer à estrada em duas rodas, em que grau me encontro de paixão e satisfação para me sentar na minha Vision e seguir viagem como analgésico e como fim de todas as curas? Certo é que a lombalgia dos últimos dias tem-me acompanhado em cima da minha Honda Vision 110. Na sexta-feira para o trabalho, ontem para uma ida a Vila Verde. E hoje, já me sinto bem melhor! Custou-me a remover a cobertura que todos os dias coloco na mota, mas depois de me sentar nela, já só queria sentir o vento a bater-me. E segui viagem para o concelho vizinho de Vila Verde. Vila Verde foi uma espécie de logradouro da alta nobreza do Condado Portucalense. A riqueza patrimonial, cultural e arquitetónica encontra-se esp...

O mais distante até agora

31 maio 2025
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O calor começou a apertar e o sol tem vindo em força para iluminar dias mais longos e prazerosos em cima de uma mota. O dia de trabalho é duro, mas a recompensa estava próxima. A sexta-feira pode prolongar-se até mais tarde com a chegada do fim-de-semana. Chego a casa e lavo a alma e o corpo com a frescura da água. Visto roupa fresca. E arranco para o mais distante que fui até hoje com a minha Vision. Fui até Barcelona Barcelos de mota! Com o depósito na reserva, dirijo-me até à bomba de gasolina para atestar o depósito. O depósito cheio deu-me o conforto que desejava para uma viagem mais longa que o habitual, numa estrada movimentada em que segmentos apresentam alcatrão novo e outros zonas de obras. Saio então dos arredores da cidade de Braga com destino à cidade vizinha de Barcelos. O trânsito na Estrada Nacional 103 lembra que ainda estamos em hora de ponta com muitas pessoas a saírem dos seus empregos e a prepararem-se para mais um fim-de-semana. A viagem foi tranquila e deu bem p...

O apagão

10 maio 2025
O dia 28 de abril de 2025 ficará marcado como o maior apagão ibérico que há memória. Foram 11 horas e meia sem energia num dia que trouxe muita aprendizagem e regresso ao passado. Saindo mais cedo do trabalho, regressei a casa na minha mota cujo depósito tinha sido atestado na antevéspera. Como as operadoras de telecomunicações só tiveram autonomia nas suas torres para quatro ou cinco horas, depois disso ficou-se sem rede móvel. Não tinha como saber onde andava a minha mulher, apesar de ter uma ideia de onde ela poderia estar… Cheguei a casa e verifiquei que já não havia água, pois a autonomia das centrais elevatórias da rede de água também tinha chegado ao fim e só as zonas mais baixas ainda conseguiam ter alguma água nas torneiras. Munido da minha Vision decido procurar a minha mulher. Dirijo-me para a cidade e vejo o caos do trânsito, as filas para os postos de combustível e as corridas aos supermercados. Pude constatar que a maioria dos postos de combustível não têm geradores, a fr...

As Voltas de Macada

27 abril 2025
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O dia de ontem estava fantástico e serviu para vingar das persistentes chuvas primaveris. Iniciei o dia com uma jornada de duas horas acompanhado de um colega. A tarde iniciou-se na Casa de São Brás da Torre para conhecer o portal da propriedade e as suas imediações. E vindo da Casa de São Brás da Torre, cheguei finalmente às Voltas de Macada, local que já idealizara visitar há algum tempo. As Voltas de Macada são um antigo troço oitocentista da estrada real que ligava Braga ao Porto. Foi classificado, apenas no ano passado, como monumento de interesse municipal. Situa-se na extremidade de Vimieiro com Priscos. Trata-se de um monumento único, sendo um dos testemunhos, ainda que residual, da modernidade das infraestruturas rodoviárias em Portugal, projetada na primeira metade do século XIX. Este tramo reúne um conjunto de 9 rampas declivosas e outras tantas curvas com raio de 1800, dispostas em ziguezague, destinadas a vencer um desnível de 32 metros ao longo de uma extensão de 600 me...

Casa de São Brás da Torre

26 abril 2025
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Com um fim de semana de céu predominantemente limpo e após um vigoroso passeio matinal senti que a tarde me pedia mais. Então, segui até à Casa de São Brás da Torre, tratando-se do edificado mais antigo da freguesia de Figueiredo, nos arredores da cidade de Braga. Do exterior, além do portal, o vislumbre de algo mais é dificultado pelos altos muros. É possível, no entanto, através de outro portão, verificar dependências de cariz agrícola e a existência de uma capela dedicada a São Brás. Neste local, evoca-se a existência de uma antiga torre, de época medieval, entretanto desaparecida após um incêndio ocorrido em meados do ano de 1800 e que deu origem ao nome Casa da Torre, atualmente ainda usado. O que hoje se conhece é uma reconstrução setecentista que integra elementos de datamento anterior. No entanto, o portal, que exibe as armas dos Magalhães, Barros e Lanços, foi executado já na época de 1920.