Ao ombro

26 novembro 2025

Há quem leve o mundo nas costas. Eu levo-o ao ombro.

Dentro desta bolsa cabe o essencial: a carteira, o telemóvel, um par de chaves e, às vezes, o silêncio. É leve o suficiente para a esquecer, mas está sempre lá — a lembrar-me que a liberdade também se organiza em fechos e bolsos.

Não é uma mala de viagem. É uma companheira urbana.
Vai comigo em dias de sol e de chuva, por ruas estreitas e avenidas largas, entre cafés e cruzamentos, entre lugares onde se fica e outros onde se passa apenas. Quando me sento numa esplanada, pouso-a na mesa — como quem pousa uma parte de si que não precisa de estar sempre em movimento.

Na aba lê-se “A Minha Honda”. Se alguém reparar e perguntar direi que é o nome de um blogue, ou talvez de uma maneira de andar — devagar, atento, com gosto em chegar, mesmo quando o destino é só mais um ponto na rotina.

A bolsa é, de certo modo, a versão civil da mota.
Com ela, deslizo pelas ruas a pé, atravesso passadeiras, paro em semáforos — tudo igual, só mais lento. A diferença é que não há motor, nem capacete, nem vento na cara; mas há o mesmo prazer em levar pouco e sentir que nada falta.

É curioso: o que começou como um acessório acabou por se tornar numa espécie de tradução portátil do blogue.
Não faz barulho, não acelera, mas carrega o que preciso — e, às vezes, isso basta para continuar a sentir-me em marcha.

Andar com "A Minha Honda" ao ombro é isto:
carregar o quotidiano com a leveza de quem sabe que tudo o que importa cabe num gesto, num bolso ou numa história.

E se um dia alguém me disser que gostava de ter uma igual, certamente irei sorrir.
Não porque queira vender, mas porque há caminhos que se partilham — mesmo quando cada um leva o seu ao ombro.