O pano da gasolina

17 novembro 2025

Não é um pano qualquer. É o pano da gasolina.
Fica na garagem, à espera do momento certo — aquele intervalo entre chuvas em que o céu parece fiar-se, e eu aproveito para lhe dar uma lavagem rápida de mangueira.

Nada de detergentes nem esponjas especiais. Só água. A seguir, o pano faz o resto: passa, seca, torce, volta a passar. O cheiro a gasolina nunca lhe saiu completamente — talvez por isso funcione melhor do que qualquer produto de limpeza.

Não é vaidade, é hábito. Uma espécie de conversa silenciosa entre mim e a mota. Ela perde o peso da lama, eu ganho uns minutos de calma.

Já me perguntaram se a mota está sempre a sair do stand. Sorri e não expliquei.
Há brilhos que não vêm do polimento — vêm do tempo que se dá às coisas.

Depois volto a torcer o pano e deixo-o ali, pendurado, à espera da próxima pausa entre chuvas.