Silêncios e promessas: o lugar dos motociclistas em Braga

18 setembro 2025

Em outubro, Braga escolhe novo presidente. E vereadores, e assembleia, e juntas, e tudo aquilo que parece muito distante — até ao dia em que falta uma passadeira, um lugar para estacionar, ou um buraco no alcatrão nos manda ao chão.

E nós, os que andamos de mota, onde estamos nessas escolhas?

No início de agosto, enviei a todas as candidaturas uma pergunta simples: que medidas propõem para melhorar a circulação, estacionamento e segurança dos motociclistas em Braga? Apenas isto. Interesse mínimo, um fio de atenção ao quotidiano urbano.

As respostas — ou a sua ausência — foram reveladoras.

CHEGA Braga respondeu com detalhes que merecem ser transcritos:

  • Parqueamento exclusivo: mais zonas sinalizadas para motociclistas em áreas de grande movimento — comerciais, escolas, hospitais, serviços públicos e zonas residenciais. Um esforço claro para tirar-nos da informalidade dos improvisos.
  • Reforço de sinalização e pavimento: buracos, irregularidades e sinalização insuficiente tornam-se perigosos quando se anda em duas rodas. A proposta prevê manutenção preventiva contínua e atenção especial a cruzamentos e rotundas.
  • Corredores partilhados em zonas urbanas: corredores que permitam maior fluidez, sempre respeitando a segurança de todos. Não é magia, é planeamento urbano pensado para quem se move rápido entre carros parados.
  • Campanhas de sensibilização e educação rodoviária: ações dirigidas tanto a automobilistas quanto a motociclistas, em colaboração com escolas, associações e forças de segurança. Um convite à convivência civilizada.
  • Diálogo permanente com associações de motociclistas: um canal de escuta ativa para implementar políticas adaptadas às reais necessidades da comunidade. Uma voz que quer ser ouvida.

É uma resposta de quem trabalhou para responder, não apenas de quem respondeu por responder. Mostra atenção, mesmo que concordemos ou discordemos das soluções.

Em contraste:

Amar e Servir Braga, pelo próprio cabeça de lista, respondeu de forma completamente vaga. Nenhuma medida concreta, nenhuma iniciativa de diálogo, apenas um redirecionamento para um programa que ainda não existe. A mensagem é clara: “veja o programa e desenrasque-se”. Um envio que poupa esforço, mas não evita a evidência de desinteresse. O candidato não se esconde atrás de assessores: ele próprio decidiu poupar-se da canseira.

CDU Braga respondeu com um extenso parágrafo sobre mobilidade: variantes, passes únicos, transportes públicos, ciclovias, corredores dedicados. Uma enumeração que poderia figurar em qualquer debate de cidade, mas onde os motociclistas simplesmente não aparecem. A minha pergunta era clara e direta; a resposta, ainda que cheia de promessas, não tocou no essencial. É como se tivéssemos passado despercebidos. Uma resposta sem saudação, sem esforço, um copiar/colar sobre mobilidade em geral.

Todos os outros partidos permaneceram em silêncio absoluto até ao fim do prazo. Nenhuma resposta, nenhuma palavra, nenhuma demonstração de atenção mínima. O silêncio, nesse caso, não é neutro: é um sinal, uma escolha deliberada de ignorar parte da cidade.

O contraste é gritante. Entre semáforos, passadeiras e buracos no asfalto, percebe-se quem olha para todos os cidadãos e quem deixa de fora aqueles que andam sobre duas rodas. Uma candidatura trabalhou; duas responderam por obrigação vaga; todas as restantes optaram pelo silêncio. Nenhuma desculpa de agenda ou de assessoria muda este facto: os motociclistas, enquanto grupo de cidadãos, foram esquecidos.

Há quem diga que eleições são sobre programas, debates e votos. Mas há também quem perceba que, por vezes, o silêncio fala mais alto do que qualquer cartaz. E nesse silêncio, Braga percebe quem escolheu não incluir, quem decidiu ignorar o quotidiano de quem circula, e quem, pelo menos, se deu ao trabalho de prestar atenção.

Enquanto a campanha continua, os cartazes multiplicam-se e as promessas alinham-se, a vida urbana mantém o seu ritmo. E nós continuamos a circular. Com cuidado, com atenção, com esperança — e com uma buzina discreta, que serve para lembrar que existimos. Não somos apenas números nos programas eleitorais: somos pessoas, cidadãos, motociclistas. E a cidade, toda a cidade, deveria saber disso.