O estrado plano e o luxo urbano

Os catálogos falam em potência, consumos, travões de disco e iluminação LED. Mas nenhum deles se lembra de mencionar a característica que, no fundo, pode decidir a compra: um estrado plano. Não vem escrito que uma verdadeira companheira urbana tem de saber carregar um saco de cinco quilos de carvão sem perder a elegância. A Vision não é apenas 110cc de liberdade, é também o UberEats dos churrascos caseiros.
O estrado plano é um detalhe técnico quase envergonhado, escondido entre linhas de design e fotografias com capacetes sorridentes. Mas é ele que transforma a scooter numa aliada de guerra do quotidiano: já trouxe sacos de batatas que pareciam vindos diretamente da lezíria, melancias capazes de rivalizar com bolas de Pilates e, agora, carvão — esse ouro negro das tardes de verão.
O saco pousa-se ali, aos pés, com a naturalidade de quem viaja em classe executiva. Não há cordas, não há improvisos com elásticos de estendal, não há aquele malabarismo circense de tentar equilibrar pesos numa mota que nunca foi feita para a vida real. Aqui, basta assentar o saco no chão da Vision e seguir viagem. O carvão chegou inteiro, sem uma brasa acesa pelo caminho.
E é esta cumplicidade silenciosa que me agrada. Enquanto outros discutem quantos cavalos têm, eu sei que a minha mota já trouxe às costas legumes para a sopa, garrafões de água que pesavam mais que ela própria e agora também o ingrediente essencial para reunir amigos em torno de uma grelha.
Não sei se a melhor mota é a mais rápida, nem a mais vistosa. Mas sei que a minha é a que garante que nunca falta lume na grelha — e isso, convenhamos, é talvez o maior luxo urbano.