Carrinhos nas motas

3 setembro 2025

Tinha elogiado o Mercadona. Disse que era o único supermercado nas proximidades que reservava lugares para motas, logo à entrada, um exemplo vindo de Espanha. Porém, a história ganhou um rodapé inesperado.

Cheguei para umas compras rápidas — cápsulas de ómega 3 e três garrafas de cocktail de maracujá. Não estive lá mais do que dez minutos. Mas bastou: os três lugares destinados às motas estavam ocupados por carrinhos de compras, bem alinhados, oito de uma vez, como se fosse um mini-armazém.

Estacionei mal, junto à entrada, ao lado dos carros elétricos. A razão estava comigo. Subi o tapete rolante e, logo na caixa, pedi:
— Boa tarde, a quem devo solicitar o Livro de Reclamações?

Chamaram a gerente. Veio com pressa, e após lhe mostrar a fotografia a primeira reação foi a de culpar os clientes, como se alguém fosse às compras com oito carrinhos encaixados uns nos outros. Ripostei. O segurança aproximou-se, diplomático, ofereceu-se para ajudar a libertar o espaço e ainda soltou um sorriso cúmplice — talvez motociclista, pensei. A gerente acabou por admitir que eu tinha razão, mas sem grande convicção.

Uma funcionária, cansada, assumiu o erro. Não escrevi no livro para não lhe cair em cima. Mas a minha ação ficou registada: um aviso para a próxima.

Entretanto chegou outro motociclista. Cumprimentámo-nos, contei-lhe o sucedido. Disse-me que aqueles lugares eram importantes, que tinha pena que outros supermercados não seguissem o exemplo, e que fiz bem em reclamar. E lá ficou ele estacionado, agora com o espaço limpo de carrinhos.

Saí do Mercadona com a sensação de ter defendido os direitos de todos nós, os das duas rodas. As pessoas têm de deixar de nos tornar invisíveis. Um lugar para motas não é um armazém improvisado — é sombra, é respeito, é um reconhecimento de que esta mota também faz compras.