A Vision fardada

7 setembro 2025

Fui a Esposende de carro. Sim, de carro — e logo aí o passeio começou com um travo de tristeza. A minha Honda ficou em casa, esquecida na entrada, como quem perde um lugar à mesa.

Mas à beira-rio, no passeio largo e cheio de vento, encontrei uma parente dela. Não tinha liberdade no olhar nem escapadelas no destino. Trazia uniforme: mala dos CTT, número de frota colado na frente, e o peso de muitas cartas às costas.

Era uma Vision também, mas fardada. Uma Vision de serviço.

Pensei: que diferença entre a minha e esta! A minha corre comigo pelas ruas sem obrigação de horário; leva-me ao trabalho, mas também ao nada — ao café sem pressa, ao regresso pela curva mais bonita, ao desvio sem justificação. A dos CTT carrega envelopes, encomendas, boletins, notícias boas e más. É a ponte que nunca falha, a presença invisível que costura a rotina dos outros.

E no entanto, olhando bem, percebi que partilhamos a mesma essência. O mesmo motor que se acende com um toque, o mesmo corpo leve a pedir curvas, a mesma vocação de ligar lugares. Talvez a diferença esteja só no condutor: uns levam sonhos, outros contas para pagar.

Voltei para o carro, resignado. Mas sorri: mesmo sem a minha Vision, encontrei-a disfarçada, a cumprir uma missão séria no meio da leveza do passeio.