A pausa da Soutinha

20 setembro 2025

A cidade tem destes segredos: deixa-nos andar distraídos no trânsito, entre o roncar dos motores e os semáforos, até que um desvio breve revela um outro mundo. Foi assim que encontrei a Cascata da Soutinha, escondida no coração de Braga, onde o Rio Este se oferece em queda sobre pedras antigas, lembrando que até a pressa tem frestas por onde escorrer.

O som da água impõe-se devagar. Não é estrondoso, mas persiste, como se dissesse que a cidade pode passar lá em cima, indiferente, e ainda assim o rio cumpre o seu murmúrio. Há frescura no ar, aquele cheiro húmido que mistura folhas, pedra e sombra, como se o verão tivesse aqui o seu refúgio secreto. O olhar descobre reflexos na espuma, desenhos de luz que dançam sem esperar ninguém.

E há também a ponte. Sobre ela, discreta mas visível, a Vision ficou à espera. Quem olha depressa talvez não a veja — confundida com o vermelho das grades, como se fosse apenas detalhe — mas ela está lá, testemunha do instante. Sem ela, não teria chegado. Com ela, a distância foi só o pretexto; o destino, esse, é a pausa.

A queda d’água não é grandiosa — não há turistas aplaudindo nem placas indicativas a apontar o caminho. É antes um gesto simples do rio, que resiste entre muros de granito, como quem teima em lembrar-nos que a natureza também tem morada nas ruas. E nesse contraste — prédios ao fundo, água aqui tão perto, uma mota parada a meio da cena — reside a beleza maior: a certeza de que ainda é possível encontrar silêncio no meio da pressa.

Ali fiquei algum tempo. Sem relógio, sem estrada marcada. Apenas a deixar que a corrente me levasse, não pelo leito do rio, mas por dentro do pensamento. Depois, subi à ponte, montei na Vision e segui. A cidade retomou o seu ritmo; eu, pelo menos por uns instantes, trouxe comigo o rumor da água.