Primeira revisão: café, óleo e boas mãos

A Vision chegou à sua primeira revisão com 1184 km — e uma certa altivez urbana. Quase a piscar-me o olho, como quem diz: “Está na hora, trata-me bem.”
Tinha contactado por email para tentar registar o momento em fotografia. Durante dias, nada. Silêncio. Mas ao chegar à Motoveiga, o ambiente era outro: o responsável pela oficina já estava informado e deu-me luz verde para entrar na área técnica, com total liberdade para fotografar. Sem complicações. A cortesia que não veio por escrito chegou, afinal, pelo gesto.
Vi a minha scooter subir para a plataforma elevatória. A suspensão dianteira cedeu ligeiramente com o movimento, como se a Vision também estivesse curiosa com o que aí vinha. O mecânico tratava da máquina com aqueles gestos automáticos de quem já fez isto mil vezes, mas sem pressa — como quem sabe que há alguém a ver e a confiar. A dada altura, o óleo escuro começou a escorrer para o recipiente, quente e já com histórias dentro. Foi substituído pelo Repsol 10W30 Smarter HMEOC 4T, um nome que soa a engenharia e a confiança.

Enquanto isso, fui tomar um café nas instalações e aproveitei para visitar o Rui Gonçalves, que tratou da venda da mota, e o senhor Hernâni Barbosa, que resolveu toda a parte administrativa. Agora acrescentei a rececionista Brenda Oliveira à lista de rostos familiares — uma profissional de uma delicadeza extrema, atenta a cada detalhe, daquelas pessoas que fazem de um balcão um lugar onde se respira à vontade.
É curioso: uma oficina pode ser apenas um lugar de ruído e graxa. Ou pode ser isto — um espaço onde se reforçam laços, se ganha familiaridade e até se fazem novos amigos. Aos poucos, a Motoveiga está a tornar-se mais uma casa para visitar.
Cerca de três quartos de hora depois, recebi um SMS a informar que a mota estava pronta. Simples e eficaz. Ainda com cheiro a óleo fresco, a Vision voltou à estrada, renovada.
A revisão dos mil quilómetros foi um gesto técnico. Mas também foi um ritual. Uma entrada oficial no mundo das motas com manutenção a sério, sim — mas acima de tudo, um sinal de que a relação com esta scooter, e com quem a acompanha, vai muito além da ficha da marcação.
Agradeço à Raquel Lopes por ter encaminhado o meu pedido, ao responsável da oficina por ter confiado, e a toda a equipa por me ter recebido como quem já conhece — e continua a querer conhecer.