O capacete e o resto

21 agosto 2025

Na scooter, a roupa é quase sempre casual. Calças de ganga, camisa, vestido, blazer, calções, t-shirt — tudo cabe. Em Itália, vi que era também muitas vezes roupa formal. O capacete, sim, é obrigatório; o resto, opcional. E, curiosamente, parece desculpável. Ninguém estranha ver um condutor de scooter de sapatos de vela, ou uma passageira de sandálias finas. É parte do código não escrito: duas rodas, mas sem armadura.

Nas motas grandes, a falta de casaco com proteções parece descuido. Na scooter, é estilo. Talvez por ela ser mais baixa, mais doméstica, mais próxima da bicicleta do que da superbike. Talvez porque o seu território natural sejam ruas curtas e velocidades modestas, onde o risco se disfarça em rotundas e passadeiras.

É uma liberdade que se paga. O vento frio não pergunta se vai para o trabalho ou para o café; a chuva não respeita a pressa. Mas há um certo prazer em sentir a cidade assim, de corpo aberto, como se o asfalto fosse apenas mais uma rua da nossa vida a pé — só que um pouco mais rápida.