Entre o poço e o asfalto: 1,8 km de terapia

15 agosto 2025

Dizem que para desligar a cabeça é preciso ir para longe. Mas há viagens que não precisam de mapas, nem de quilómetros para se sentirem longas. São 1,8 km que me separam de um pedaço de terra onde a água sai fresca do poço e onde o tempo corre devagar, entre regas e sombra.

A minha mulher costuma chegar primeiro. Já anda entre árvores de fruto, tomates, beringelas, feijões e batata-doce quando eu apareço, lentamente, ao ritmo da brisa que a Vision me dá. É um caminho breve, mas que sabe a estrada aberta, com o sol a recortar as folhas e o cheiro da terra seca a anunciar a estação, com a promessa de voltar com algo bom no baú.

Regar ali não é um dever — é uma terapia. Entre o barulho fresco da água a cair como um alívio, o canto dos pássaros, os insetos a dançar no ar, o comboio a cortar o silêncio e os sinos da igreja da Aveleda a marcarem o compasso, tudo lembra que o mundo continua a girar. E faz sentir que, mesmo não sendo nosso, o lugar nos pertence no instante em que estamos nele.

Os girassóis que semeámos dão energia ao espaço. E de lá saio sempre com algo na mão — pimentos, um ramo de couves ou outra lembrança comestível. Há ainda o prazer de colher fruta diretamente das árvores, com aquele sabor que nunca se encontra nas prateleiras. Já para não falar da minha tentação por fisális, essas pequenas lanternas douradas que parecem guardar o sol no interior.

Depois, volto pelo mesmo caminho curto, mas que leva comigo tudo o que a terra e a água sabem dar.