Entre entregas

24 agosto 2025

A mochila amarela encostada à parede ainda carrega o cheiro do último pedido. Lá dentro, um telemóvel vibra. Não é um cliente, não é um restaurante — é um texto meu que se abre entre notificações e mapas.

Um estafeta contou-me isto num intervalo qualquer, desses em que o tempo se estica entre pedidos. Disse-me que, às vezes, estaciona a mota num canto discreto, tira o capacete e lê este blogue. No meio do trânsito, dos toques de campainha e das rotas apressadas, encontra uns minutos para ficar parado, só com as palavras.

Penso nele a deslizar pelas ruas de Braga, o vento a empurrar-lhe a t-shirt, a mochila a balançar. Talvez um dia passe por mim sem saber. Talvez a minha mota e a dele se cruzem num semáforo qualquer, cada um com o seu destino.

Há quem transporte comida, há quem transporte textos. E há quem, no intervalo de um, se alimente do outro.