Do fumo das serras ao coração da cidade

18 agosto 2025

Carreguei a Vision até ao limite. Baú cheio, plataforma cheia: nem mais uma barra ou bebida energética caberia. Arranquei pela variante sul da cidade como quem carrega o mundo inteiro. Não era urgência: era ansiedade. Ansiedade boa, de quem leva algo pequeno mas sente que vai inteiro. Cada curva aproximava a minha pequena máquina de um quartel onde o fumo das serras se traduz em noites sem dormir.

À entrada hesitei. Telefonei antes de avançar. Do outro lado reconheceram-me e as barreiras subiram, como se também elas soubessem ao que vinha. A tranquilidade era enganadora: ambulâncias a entrar e a sair, o briefing dos operacionais a decorrer. Até que o comandante surgiu de mão estendida, firme. Foi ele próprio a carregar o saco das bebidas energéticas que eu e a Vision transportámos, chamando uma bombeira para levar as caixas das barras energéticas. E ali percebi: até o gesto mais simples pode pesar como ouro e ganhar corpo quando é partilhado.

Mostrei-lhe como tudo coubera na mota, feito a olho. Riu-se. Disse-me que também ele já tinha feito contas invisíveis de motociclista, e que só quem anda em duas rodas sabe como é. Rimo-nos juntos. No bar ofereceu-me o que comer e café. Agradeci, mas recusei: a cafeína faz mais falta a quem volta ao fogo do que a quem regressa a casa.

O comandante fez questão de me guiar numa visita ao novo quartel. As camas ainda cheiram a madeira fresca, mas dos cacifos escapa um odor que não engana: fumo entranhado e fardas negras de cinza. Ali estava a linha da frente, pendurada em cabides, lembrando que lá fora o verão é batalha.

Na hora das fotografias, foi também o comandante a sugerir os enquadramentos. Um camião cisterna, que outrora transportava leite. Uma viatura de transporte de pessoal. E a Vision. Diferentes escalas, a mesma missão. E eu senti orgulho. Senti leveza. Senti adrenalina. No regresso, cada quilómetro foi ocupado a encaixar tudo o que tinha acontecido, como quem tenta arrumar o impossível dentro de si.

Despedi-me com um agradecimento simples. Porque, como podemos agradecer o inominável? Eles são os que acodem quando tudo arde. E isso não tem preço. Não tem medida. Não tem descanso.

No espelho da minha mota cabe um quartel inteiro. Hoje levei pouco, mas voltei cheio.

Os bombeiros vivem do nosso apoio. São eles que seguram a cidade quando o verão se transforma em inimigo, mas precisam de nós para que o quartel respire.

Ser sócio não é apenas pagar uma quota: é estar dentro de uma comunidade que protege a cidade. É fazer parte de uma muralha invisível, erguida por todos nós. Pedi para duplicar o valor da minha quota anual. Pequeno gesto, enorme certeza.

Se tens uma mota, um carro, ou apenas o coração disponível: torna-te sócio dos bombeiros da tua terra. É o gesto mais certo, mais necessário, mais urgente. Torna-te sócio. Ajuda quem nos ajuda.