Do café curto ao longo

26 agosto 2025

Encomendei café online. O plano era simples: escolher o ponto de recolha mais próximo de casa, 650 metros apenas. Fácil: quase podia ir a pé. Mas o universo tem sempre gosto em baralhar itinerários, e um telefonema dos CTT fez a magia: o café afinal iria parar a uma papelaria no centro da cidade. Quase quatro quilómetros de distância.

O que era para ser um café curto tornou-se numa expedição. Com 34 graus em Braga, não saio de casa por pouca coisa. Mas aqui estava a desculpa perfeita: se o café me acorda por dentro, a Vision desperta-me por fora. Ligo-a e de repente o bafo quente da rua fica esquecido mal o vento me percorre o corpo.

A viagem foi tranquila, sem nada para contar. Mas deu para reparar que não era o único louco a circular dentro de um forno. Outros motociclistas cruzavam-se comigo, cada um a justificar à sua maneira o calor. Somos uma estranha confraria: uns vão pelo prazer, outros por necessidade. Eu ia pelo café.

Chegado à papelaria, nada de lugares livres. Tudo ocupado por carros imóveis e sem graça. Estacionei a Vision no passeio largo, à sombra, com a elegância de quem se adapta. Entrei, recolhi a encomenda, e lá vim eu de volta, com a caixa bem encaixada na plataforma plana.

Em casa, olhando para o resultado final, só me ocorre fazer contas. Entre os quilómetros extra, o calor, e o tempo despendido, este deve ter sido o café mais longo que já bebi.

Mas também foi o mais bem tirado.