Período de rodagem

Vou tocar num assunto que está cheio de lendas e teorias: o período de rodagem ou amaciamento de um motor. É um assunto mais técnico, mas de extrema importância. Será uma exceção neste blogue, pois não sou particularmente dotado para abordagens mais técnicas.
Provavelmente quem ouviu falar do período de rodagem terá ouvido também que isso é uma coisa do passado, que já não se pratica. Mas quem te falou isso, como já me falaram a mim, está redondamente enganado! Na verdade, no passado, um motor com zero quilómetros precisava de rodar entre três a cinco mil quilómetros para o motor ultrapassar o período de rodagem.
O que é o período de rodagem? De um modo simples, são as peças internas de um motor que à medida do seu funcionamento vão-se ajustando umas às outras para que o motor tenha a máxima eficiência, menor consumo de combustível, e até de óleo.
Os motores mais modernos já não precisam daqueles milhares de quilómetros iniciais para ultrapassar o período de rodagem mas, temos de nos lembrar que naqueles primeiros 500 quilómetros não podemos arrancar e acelerar com tudo. Devemos ter uma abordagem moderada e então depois daqueles primeiros 500 quilómetros, já podemos acelerar.
É por este motivo que ainda não tenho resposta para aqueles que já me perguntaram várias vezes qual a velocidade máxima que a minha mota dá. Enquanto estiver no período de rodagem não me vou lançar para a variante da cidade e apertar com o motor para verificar a velocidade máxima que consigo atingir.
Mas há mais: não é só o motor que tem de passar por um período de rodagem. Os travões nos primeiros quilómetros não têm as pastilhas muito bem ajustadas aos discos, e como funciona com o atrito da pastilha contra o disco, então no mínimo nos 200 quilómetros iniciais devemos ter cuidado com os travões. Já os pneus, quando são novos, não têm a aderência suficiente ao asfalto.
E o que diz a Honda? No manual da Vision 110 o período de rodagem é referido na secção das "precauções de condução". Nele a Honda faz apenas três recomendações para os primeiros 500 quilómetros: evitar arranques com o acelerador a fundo, bem como as acelerações rápidas; evitar travagens fortes; e recomenda uma condução de forma moderada.
Não é à toa que a primeira ida à oficina para a revisão é aos mil quilómetros. O primeiro óleo sairá mais sujo porque ao longo dos quilómetros iniciais o resultado do atrito dos componentes do motor irá circular e ficar depositado neste primeiro óleo. Daí a primeira mudança de óleo ser num intervalo mais curto.
O que fez reduzir o período de rodagem dos motores mais antigos para os mais recentes tem a ver com a evolução tecnológica no fabrico dos componentes, em que atualmente é possível fazer acabamentos com menos imperfeições e rebarbas. No entanto, as imperfeições e as rebarbas não estão eliminadas de todo e isso leva a que continuemos a necessitar de um período de rodagem para que o atrito entre componentes resolva essas imperfeições e crie canais mais eficazes para a correta circulação do óleo entre as peças.