Descobrir Panoias
O dia acordou chuvoso e impedia escapadelas e fotografias. No entanto, e com o avançar das horas, o esperado sol resolveu aparecer, ainda que envergonhado, e a necessidade de me dirigir para noroeste da cidade colocou-me perto de uma localidade que dificilmente lá iria, não fosse algo nela me despertar o interesse, até porque Panoias não é atravessada por nenhuma estrada principal e não tem uma localização central, apesar de se localizar apenas a 7 quilómetros do centro da cidade de Braga. É uma zona rural atravessada por um rio, e tem muita história para se conhecer!
Resolvi seguir a Estrada Municipal 564, em Mire de Tibães. Chegando a Ruães virei à direita e segui por uma estrada em paralelos de granito até chegar à escola básica do 1.º ciclo de Panoias, virando à esquerda. Não há qualquer indicação, mas poucos metros depois damos com o portal da Casa da Mainha.

A Casa da Mainha é uma construção datada do século XVI, pertencida ao Couto (um lugar circunscrito pertencente ao clero) do Mosteiro de Tibães. Sofreu diversas intervenções de conservação e ampliação no século XVII pela administração do mosteiro. Está classificado como Monumento de Interesse Municipal desde 6 de junho de 2013.
A Casa, de visibilidade difícil pela altura dos muros, do portão e da vegetação, está inserida numa Quinta implantada numa área do vale de suave topografia, sendo o seu território cortado e banhado por um pequeno curso de água, denominado Rio Torto (também chamado Rio Mau).
A entrada na quinta faz-se por um belo portal de Casa solarenga. Este portal é encimado por duas pequenas colunas, sustentando cada uma o seu merlão e ao centro, uma cartela lisa rematada por uma cruz. Azulejos indicam o ano de 1697. A propriedade, inserida num contexto rural, delimitada por um muro, apresenta-se rodeada por terrenos agrícolas e por jardins, acedendo-se à porta principal a partir de uma calçada “à portuguesa”. A calçada que dá acesso à Casa é definida por sebes de buxo talhado e japoneiras, ambos podados em forma esférica, os quais, juntamente com o granito em volutas, revelam toda a exuberância da região do Minho.

Retomando o caminho que me leva ao centro de Panoias, e atravessando a ponte sobre o rio, verifico que imediatamente à direita surge o único moinho que ainda se encontra em funcionamento. Este tem sofrido de década para década diversas alterações devido à mudança de proprietários pelo que infelizmente nem sempre foi respeitada a traça original do edificado.

Panoias era uma importante freguesia agrícola no século XVI. No final deste século, o leito do rio foi desviado pelos beneditinos para benefício da população. A intensa atividade agrícola exigia a existência de vários moinhos junto ao rio para a moagem do milho, e azenhas para a produção do azeite. Dos moinhos que existiam no Rio Torto este é o único que se encontra em atividade e mói cerca de 500 kg de milho por mês. A farinha obtida acaba por ser comercializada pelas padarias e por alguns particulares da região, que ainda fazem a troca do milho pela farinha.
Infelizmente, este rio encontra-se sujeito a descargas poluentes e aquando da visita, apresentou um cheiro nauseabundo. Urge proteger o rio e incentivar a reabilitação dos restantes moinhos já em ruínas, preservando a paisagem e um património coletivo de valor histórico.

Terminei a minha visita no Largo do Souto, junto ao Cruzeiro Miliário de Panoias. Um cruzeiro curioso porque a sua base de construção é o aproveitamento de um marco miliário, que se supõe ter sido trazido da estrada romana que ligava Braga a Astorga e passava na localidade vizinha de S. Paio de Merlim. O facto do marco estar invertido revela raízes mais ligadas ao paganismo do que à religiosidade.
Dada a antiguidade histórica deste marco, somos remetidos para um tempo em que os romanos pisavam a “Bracara Augusta”, deixando vestígios que ainda hoje podem ser vistos, mesmo que não seja nos seus locais originais, como é o caso deste cruzeiro miliário.