Scooter é uma moto?

Quando participei no último desfile de pais e mães Natal organizado pelo Moto Clube de Braga houve um camarada motociclista que se dirigiu a mim, em jeito de apoio, com um "força que também é moto!". Fiquei com aquele "também" na minha cabeça… Mas a dúvida existe? Parece que sim, para algumas pessoas!

Pesquisando sobre este assunto fico a saber que o mesmo é polémico, por isso, vamos lá esclarecer! Afinal, scooter é ou não uma moto?

Questionar sobre se uma scooter é uma moto é uma forma de menosprezar aqueles que andam de scooter ou que preferem as scooters em vez de outros tipos de moto. Trata-se de uma visão equivocada e mesmo preconceituosa!

Um dos argumentos tem a ver com a posição em que o condutor fica: nas motos ficará montado, enquanto que nas scooters fica sentado. Será mesmo que a posição de condução é o que determina o que é uma moto e o que faz uma scooter ser ou não ser uma moto?

Vamos a factos: em 1885 era criada a Daimler Reitwagen, uma espécie de bicicleta equipada com um grande motor movido a vapor. O projeto apresentou diversos problemas, sendo o maior deles o peso do motor e a quantidade absurda de calor que dele imanava, chegando a queimar as pernas de quem nela seguia. Esta invenção foi considerada a primeira motocicleta do mundo. É importante referir, que neste caso, a posição do condutor é montado.

Porém, a primeira motocicleta patenteada só foi criada em 1894 por uma empresa alemã chamada Hildebrand & Wolfmüller e adivinhem, a posição do condutor nesta invenção é sentado, tal como nas scooters!

Esta passagem histórica vem deixar bem claro que a posição de condução não é o que determina o que é ou não uma moto. A menos que queiram dizer que nenhum destes projetos pioneiros sejam motos ou que apenas um destes projetos é de facto uma moto, mas isto, já é uma ideia forçada…

Levantar a questão se uma scooter é ou não uma moto obriga a um revisionismo histórico, chegando-se então ao argumento de que uma scooter não é uma moto por conta da diferença do quadro, que no caso das scooters é aberto. Se comparar-mos as primeiras motocicletas do mundo, efetivamente elas não dispõem do mesmo tipo de quadro e mesmo assim continuam a ser motos.

Se dois projetos diferentes, com diferenças na posição de condução e com formatos de quadro distintos são considerados igualmente motos, o que faz então uma moto ser uma moto?

A etimologia da palavra motocicleta define-se como um substantivo feminino, sendo um veículo de duas rodas, semelhante a uma bicicleta, mas acionado por um motor, com capacidade para transportar um condutor e um passageiro. A origem da palavra vem de Moto + Cicleta. Assim, podemos entender que uma moto é uma estrutura ciclística de duas rodas acionada por um motor. Vejam só, as scooters são exatamente isso!

Mas então, de onde vem a ideia de que uma scooter não é uma moto?

Desmistificando a ideia, é precisamente a palavra "scooter" que é uma das causadoras da confusão. Recuamos então 100 anos para falar de um veículo revolucionário que tomou conta das ruas de Nova Iorque chamado Autoped. O Autoped era nada mais nada menos do que uma trotinete, com um motor de 155cc, em que o condutor guiava de pé sob uma plataforma, tendo sido produzidos entre 1916 e 1920 pela Autoped Company of Long Island.

Em 1920 a empresa The Gloucestershire Aircraft Company Limited ousou misturar os aspetos da praticidade urbana das trotinetes com a força e robustez das motocicletas da época, e foi assim que nasceu a Unibus, considerada por muitos a primeira scooter do mundo.

Mas ao contrário do que muitas pessoas pensam, as scooters não são uma evolução das trotinetes com motor. As scooters têm efetivamente traços do ADN das trotinetes que por sua vez acabaram por contribuir com aspetos fundamentais, nomeadamente com a plataforma e a posição de condução, bem como parte do design. Porém é inegável que o projeto e a estrutura fazem da scooter uma motocicleta porque ela foi fabricada com o intuito de ser uma moto.

Podemos então afirmar, sem sombra de dúvidas, que a scooter nada mais é do que uma motocicleta com aspetos inspirados nas trotinetes, tornando-se assim, na primeira categoria ou segmento de motocicletas da história. O termo moto-scooter nada mais é que uma alcunha dada pelos ingleses com o objetivo de dar uma norte-americanização no nome, tornando-se no nome do segmento e é assim que nós o conhecemos nos dias de hoje.

A verdadeira confusão vem da etimologia da palavra scooter, pois significa "aquele que vai rapidamente" quando em 1919 foi utilizada para dar o nome às trotinetes, até que se começasse a utilizar para abreviar a palavra moto-scooter dada pelos ingleses.

Chegamos então a uma altura em que a intenção da abreviação feita pelos britânicos já começa a ser um detalhe sem importância. O importante é que o nome correto é moto-scooter e não apenas scooter. Porque na verdade uma scooter seria de facto uma trotinete. Já uma moto-scooter é uma categoria dentro das motocicletas. Scooter é apenas uma abreviação do termo, mas como se pode ver, dá uma grande confusão!